Em outubro de 2016, a estudante paranaense de 16 anos, Ana Júlia Ribeiro, viralizou na internet com um vídeo em que encarava os parlamentares da Assembleia Legislativa do Paraná para pedir que os alunos das escolas ocupadas fossem ouvidas.
Quatro meses depois, às vésperas da votação da Medida Provisória 746/16, norma que promove a reforma do ensino médio e foi estopim do movimento que tomou todo o país, ela virou uma referência para a esquerda tão carente de utopias.
Algo fácil de perceber pela quantidade de fotos que tirou com advogados e sindicalistas, a maioria com o dobro de sua idade, mas que veem na menina e no movimento uma fio de esperança para dobrar tempos conservadores, carentes de lideranças, especialmente as mais jovens.
Ana fechou o primeiro dia da etapa paulista do curso “Os desafios para a intervenção Política e Sindical: Teoria e Prática”, que a Advocacia Garcez promove em sua sede na capital.
A militante do movimento apontou que, se os movimentos sociais realmente presente buscar a renovação e uma nova forma de dialogar com as bases, como muitos apontaram durante todo o dia, o primeiro passo é pensar um modelo de organização descentralizado e mais plural.
“As ocupações têm desconstrução muito grande de cultura conservadora. Quem está na frente são minorias, mulheres,negros e negras, LGBTs batendo de frente com a onda conservadora. Mostra um aspecto muito importante de passar a ser visto como sujeito, aqueles que devem e podem ser escutados, que têm como opinar de maneira consciente”, pontuou.
Uma batalha que, segundo ela, deixou claro que os adolescentes estão preocupados com a situação do país e buscam um processo de formação que foge dos padrões adotados pelas principais entidades.
“A ideia de alienação já deveria ter sido desconstruída porque o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê os adolescentes como sujeitos. O governo achou que ia aprovar tudo que quisesse, como quisesse e achou que não ia ter resistência. Mas os secundaristas levantaram a cabeça e disseram aqui não, vai ter que nos escutar e vamos te dar dor de cabeça.”
A indignação dos estudantes, afirmou explodiu diante do rolo compressor que pretendia e pretende piorar o que já é ruim.
“Isso aconteceu porque a gente já vive em uma escola precarizada, vive num ambiente que não é propício para produção de conhecimento e aí vem uma proposta que precariza ainda mais. Amanhã é um dia triste, mas também um dia de resistência. Não é por conta da votação da MP que a luta e a resistência acabam. Agora vamos nos mobilizar para que as medidas não sejam implementadas na escola”, explicou.
Crise de representatividade
Segundo ela, o movimento também deixou claro que a crise de representatividade se aprofundará, caso os movimentos tradicionais não revejam sua relação com organizações autonomistas.
“Sou autonimista, não integro nenhuma organização, valorizo a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), mas estão dentro de uma bolha e não conseguem enxergar as escolas. Por isso os movimentos das escolas promovidos por autônomos tem dificuldade nessa relação. Os estudantes entendem a importância dessas entidades, mas não se veem reconhecidos por elas”, falou.
Uma visão muito semelhante a que tem do movimento sindical, ainda distante da luta sem protagonistas dos secundaristas.
“No Panará, a APP Sindicato (Sindicato Estadual dos Professores) ajudou bastante e hoje enfrenta mais de 10 mil processos. A categoria de professores, como um todo, no país, não. Sei de locais em que sindicatos não ajudaram nem com vaquinha de ônibus porque o coletivo não fazia parte da base deles. Os sindicatos dos professores deveriam ter uma participação, mesmo que não fossem ter protagonismo. Porque o estudante se vê como trabalhador, mas não se identifica com o sindicato. É preciso ver como mensagem do sindicato está sendo passada, o que a juventude quer e do que está indo atrás”, ensinou a estudante.